SAÚDE BUCAL: INFECÇÃO PERIODONTAL PODE AFETAR CORAÇÃO E ESTAR RELACIONADA A RISCO ONCOLÓGICO
O Dia Nacional da Saúde Bucal, comemorado em 25 de outubro, chama a atenção para uma condição que é um grande desafio para os sistemas de saúde ao redor do mundo: as doenças bucais. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, 3,5 bilhões de pessoas no mundo convivem com algum problema bucal, sendo a doença periodontal – ou periodontite – um dos mais comuns.
No Brasil, segundo o IBGE, 34 milhões de pessoas adultas perderam 13 ou mais dentes ao longo da vida. Outros 14 milhões vivem sem qualquer dente na boca. Os números revelam parte do impacto da doença periodontal no país, visto que a perda dentária é uma consequência dessa patologia, especialmente quando ela não é tratada.
Segundo a dentista Beatriz Coutens, especialista em odontologia hospitalar, além da perda de dentes, a doença periodontal tem relação com um risco aumentado de complicações em outras áreas do corpo, como o coração, com o desenvolvimento da endocardite, uma inflamação na membrana que envolve o órgão, chamada de endocárdio.
“A doença periodontal se caracteriza por um acúmulo de bactérias na gengiva, ao redor dos dentes, até a formação da placa bacteriana. Esse acúmulo de bactérias pode cair na circulação sanguínea e se instalar em tecidos ou válvulas cardíacas, causando a endocardite”, explica.
Por isso, é tão importante manter não apenas uma rotina de higiene bucal, mas também visitas regulares ao dentista. “A remoção regular da placa bacteriana e do tártaro ajuda a reduzir o risco de inflamações. Por isso, recomenda-se visitar o dentista a cada seis meses”, explica a dentista.
Além disso, a higiene do dia a dia é essencial. Além da escovação, o fio dental deve ser utilizado diariamente, alcançando partes da boca nas quais a escova não consegue chegar.
A importância desse cuidado está nas consequências sistêmicas que podem estar associadas à doença periodontal. Os estudos têm indicado que os restos de alimentos e o acúmulo de bactérias na boca podem levar à liberação de substâncias ligadas ao desenvolvimento de câncer na boca e em outras regiões do corpo, como no sistema digestório.
“Inflamações crônicas, como é a doença periodontal, especialmente os casos de longo curso, tendem a impactar o corpo de forma sistêmica, não apenas com consequências para a boca, mas para outros órgãos e tecidos. Isso reforça a necessidade de conscientização e adoção de hábitos de higiene e visitas regulares ao dentista”, afirma Coutens.
“É importante ainda que as pessoas saibam que algumas condições de saúde exigem um cuidado ainda mais rigoroso com a boca e com os dentes. O organismo de pacientes com diabetes, por exemplo, tem mais dificuldade em controlar o surgimento do biofilme, que é o acúmulo de bactérias na boca. Isso pode predispor a uma maior facilidade de surgimento da doença periodontal, por isso essas pessoas devem redobrar os cuidados”, complementa.
Tratamento
Para os casos em que a doença periodontal já se instalou de forma mais intensa na boca, a perda dentária é um risco a ser considerado. O tratamento odontológico, nesse caso, pode envolver desde uma simples raspagem para remoção da placa bacteriana e do tártaro até um acesso cirúrgico, que visa reconstruir o tecido periodontal por meio de enxertos gengivais ou ósseos.
Por Fabio Andrade