O Cisne Negro na Educação Superior: Ensino Remoto Emergencial e a Educação a Distância (EaD)

Por: Carlos Fernando Araujo Jr
Pró-reitor de Educação a Distância da Cruzeiro do Sul Educacional, Diretor da ABED (Associação Brasileira de Educação a Distância) e Pesquisador do programa de Mestrado e Doutorado em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Cruzeiro do Sul na linha de pesquisa “Tecnologias Computacionais Aplicadas”.

Temos acompanhado, pelas redes sociais e meios digitais de divulgação científica, uma intensa discussão nesses tempos de COVID-19 sobre os diversos modos com que as atividades acadêmicas estão sendo realizadas nos cursos presenciais. Fizemos um vídeo muito simples para melhor caracterizar o que estamos fazendo, inspirados no trabalho recente de #charlesHodges et al, no contexto da nossa realidade institucional e compartilho aqui com todos vocês. Apresentamos também uma breve discussão do tema para contribuir para o esclarecimento.

No Brasil, assim como em vários outros países, a Pandemia do COVID-19 trouxe-nos situações completamente adversas cujos desdobramentos não são claros: alguns autores têm usado o conceito de Nassim Nicholas Taleb da Teoria do Cisne Negro para caracterizar esse momento (Goldie Blumenstyk – The Chronicle of Higher Education). Estamos vivendo período de disrupção “forçada” onde métodos e técnicas que usávamos não podem mais ser utilizados, por motivos que dificilmente poderíamos conceber que aconteceria, mas que nos colocam em uma condição completamente diferente. Talvez o século XXI e tudo aquilo que pensávamos sobre esse novo milênio parece começar agora…

Nesse contexto, as instituições de ensino, nos diversos níveis, se viram na necessidade real de se apropriarem de recursos tecnológicos considerados até “inovadores” em se considerando a prática do ensino presencial tradicional. Recursos esses amplamente usados nos cursos online ou nos cursos híbridos, se descortinaram para um público muito maior de professores e estudantes formado pelos professores que atuam nos cursos presenciais no Brasil. O que estamos fazendo ? Isso é EaD? Como essa tecnologia funciona? Essas são algumas das questões emergentes nas nossas IES.

O MEC, em um momento de pressão por regular o novo cenário, publicou a Portaria No. 343/2020, alterada pela Portaria MEC No. 345/2020, que regulamenta ” a substituição das aulas presenciais por aulas que utilizem meios e tecnologias da informação e comunicação  enquanto durar a pandemia…”. “Aulas que utilizem meios e tecnologias da informação” pode ser considerado um termo bastante abrangente que não caracteriza o que pode ser feito pelas IES e que, portanto, deve ser especificado por estas, dentro dos limites legais. Em seu artigo 1o é claro o caráter “excepcional” da ação regulatória. Considerando que os limites legais de EaD como componente curricular nos cursos presenciais está estabelecido pela Portaria MEC No. 2117/2019 (que permite até 40% de componente EaD nos cursos presenciais). O artigo 1o. da Portaria 345/2020 expressa:

Fica autorizada, em caráter excepcional, a substituição das disciplinas presenciais, em andamento, por aulas que utilizem meios e tecnologias de informação e comunicação, por instituição de educação superior integrante do sistema federal de ensino, de que trata o art. 2º do Decreto nº 9.235, de 15 de dezembro de 2017.(Portaria MEC 345/2020) 

Assim, muitas instituições, associações (veja o artigo do #RodrigoCapelato do Semesp) têm destacado o caráter excepcional como “emergencial” e o termo “aulas que utilizem meios e tecnologias da informação e comunicação” como “aula remota” , pois não se enquadram completamente no estabelecido pela Portaria No.2117/2019, em termos de procedimentos regulatórios e em termos de caracterização do componente EaD no curso presencial. Portanto, dentro do princípio de autonomia das IES, do bom uso da Ciência e do sempre necessário aporte de criatividade, podemos chamar esse modelo emergencial de oferta como Ensino Remoto Síncrono Emergencial ou Ensino Remoto Síncrono como apropriadamente propõe Charles Hogdes et al, tornando claras as diferenças deste modelo com o(s) modelo(s) utilizado(s) na Educação a Distância. O modelo ERE/ERSE não são melhores nem piores que os modelos utilizados na EaD, embora tenham inspiração neste, pois a base desta tecnologia e metodologias são intensa e amplamente utilizadas na EaD (ver Frederic Litto da #ABED) e Mariano Pimentel. Para caracterizar um modelo não é necessário descaracterizar o outro, como temos visto nas redes sociais ou nas manifestações de autoridades.

A “Teoria” do Cisne Negro nos ajuda a entender que eventos considerados “imprevisíveis” podem ocorrer e são mais frequentes do que possamos acreditar. Mas a principal lição é que nosso entendimento da história pode ser reinterpretado e nosso futuro pode ser positivamente e significativamente transformado. Tudo depende do nosso presente e de como encaramos os desafios advindos da adversidade!

Importante: O teor deste artigo é autoral não refletindo qualquer posicionamento oficial (em parte ou no todo) das empresas, instituições ou associações as quais o autor tem vínculo.

Fonte: ABED – Associação Brasileira de Educação a Distância 

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